sexta-feira, junho 2, 2023
InícioArtigosSíntese da história de Mineiros - I

Síntese da história de Mineiros – I

Por certo, a história de Mineiros, extremo Sudoeste de Goiás, pode ser estudada, analisada e classificada de diversos modos, inclusive pelo processo que chamo “síntese”, para não dizer sumulado, ligado a alguns fatores de âmbito histórico, econômico, social etc., dos finais do Século XIX, sempre deixando influências no período seguinte, destacando-se  as atrativas pastagens nativas, típicas da Sub-Região das Pastagens Sudoestinas, descritas pelo saudoso escritor Basileu Toledo França, adequadas ao apascentamento de animais  soltos, principalmente gado; a expansão da economia agropecuária vinda de Minas Gerais, sobretudo do Triângulo Mineiro, antigo   Sertão da Farinha Podre, até 1816 pertencente à Capitania de Goiás, de onde, por volta de 1873, vieram várias famílias: Carrijo, Rezende, Teodoro, Oliveira, Alves etc., que adquiriram e se apossaram de grandes áreas de terras, visando a formação de grandes fazendas, como Flores do Rio Verde, por exemplo,  para criação dos animais citados, nas cabeceiras e margens dos rios, mormente Rio Verde, carinhosamente  “Rio  Verdinho”, um dos mais importantes afluentes do Rio Paranaíba e do Rio Paraná, formadores da Bacia do Prata.MartinianoJSilvaMineiros

Com o aumento populacional e das fazendas, com destaque entre as famílias referenciadas, no dizer do notável sociólogo e crítico-literário, Antônio Cândido, acentuou-se na região o chamado povoamento rural, “disperso”, tipo patrimonialista, já tendo como principal chefe de famílias o major Joaquim Carrijo de Rezende, elevado décadas depois ao posto de “coronel”, levando em conta o sistema político adotado a partir do início da Primeira República (Constituição Federal de 1891). Assim, o povoamento local foi transformado em 2º Distrito de Paz de Jataí, no ano  citado, começando ali a formação de um arraial  à margem  direita  do Córrego Mineiros, afluente do Rio Verdinho, onde se erige a capelinha do Divino Espírito Santo, começada em 1891 e findada em 1899, elevada a Paróquia em 1913, ponto básico de atração dos mineiros e de outras famílias já presentes na região, todos católicos apostólicos romanos, devotas dos santos: São Sebastião, protetor especial  do gado e Divino Espírito Santo, escolhido para os momentos extremos, contexto histórico que passou a ser chamado  “Arrayal do Mineiro” e outras poucas denominações,  já definido  como principal chefe político do Arraial,  o “coronel” Joaquim Carrijo de Rezende, amigo de governos da Província e do Estado.

Em virtude dos fatores citados, a Lei nº 257 e o Decreto de 7 de agosto de 1905, o “Arraial do Mineiro” foi elevado à condição de Vila e Município pelo “coronel” Miguel da Rocha Lima, Presidente do Estado, instalando-se, assim, o sistema político de Intendência Municipal, tendo como primeiro Intendente Provisório (prefeito à época), o “coronel” José Para-Assu, de origem baiana, emergente da Guerra do Paraguai, já casado com Maria Jesuina de Morais, de tradicional família do Sudoeste, então viúva de Francisco Joaquim Vilela, apelidado “Vilela Brabo”,  segundo estou informado, morto pelos índios bororos na Fazenda São Domingos, Município de Mineiros, provavelmente em 1886.

Conforme a Lei nº 90, de 21 de junho de 1907, foi feita a segunda demarcação do Município de Mineiros, presumindo-se ter havido a primeira com a instalação da Vila e Município (Lei 257, citada). O sistema político de Intendência durou 25 anos (1905-1930), formando o primeiro período de vida político-administrativa institucional da Terra, já  mantendo um interessante  Código de Posturas de 1909, autoria do vice-Intendente, Caetano Carrijo de Rezende, irmão do “coronel” Carrijo, ainda  tendo como principal liderança política este último e as poucas pessoas a ele ligadas pelo sangue ou afinidade familiar, falecido nos finais de 1925, só sendo exceção na direção política da Vila, o caso do  “coronel” José Para-Assu, que assumiu o cargo por prestígio e maior experiência pessoal, já se tendo na Vila dois tipos étnico-sociais básicos, os mineiros visionários  e os nordestinos ousados, realçados pelos baianos, começando assim, alem dos mineiros, a grande influência dos filhos da boa terra na vida política, econômica e social  de Mineiros.

Só com o censo demográfico de 1920, ligado ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população mineirense aparece estudada e quantificada oficialmente, “repartida” em “zona rural”, predominante; e “zona urbana”, já distribuída por sexo. Ali, Mineiros tinha 4.154 habitantes, com 2.234 homens e 920 mulheres, característica que se prosseguiu, quase todos na zona rural, sendo esta, portanto, a primeira vez que a população local, em pleno regime de Intendência, fez parte de recenseamento oficial. Apesar de muito lento o aumento da populacional do vilarejo e das propriedades rurais, com o tempo surgiram algumas atividades de caráter “urbano”, dentre outras,  comércio, alguns serviços, pequena indústria,  impostos e a localização,  que justificaram elevar a Vila e o Município à cobiçada  condição de cidade, em 31 de outubro de 1938, conforme Decreto-Lei estadual  nº 1.233, data já consagrada como aniversário de emancipação política da cidade, seguindo  orientação legal e política do Estado Novo, através  do Decreto-Lei  311/38, baixado por Getúlio Vargas.

Com o Decreto-Lei estadual nº 8.305, de 31 de dezembro de 1943, a cidade foi elevada ao honroso status de comarca, sendo instalada, solenemente,  inclusive com uma animada missa, em prédio próprio do Fórum e Prefeitura, arquitetura art dèco, somente no dia 25 de março de 1944, tomando posse como primeiro Juiz de Direito, Dr. Aristides Augusto. Dentre outras ilustres autoridades, Interventor e Governador do Estado, Dr. Pedro Ludovico Teixeira e esposa, dona Gercina Borges, Drs. Solon Almeida e Vandi Borges, Bispo Dom Germano Campon, Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Dário Délio Cardoso, prefeito interventor Pedro Arantes, Banda de Música da Polícia Militar, chefe político Antônio Getúlio da Silva, “Tonico Corredeira” etc. Eis uma festa realmente inesquecível, até então inigualável no lugar, evidenciando um dos momentos mais singulares da história do Município; notando-se que Mineiros, pouco importando as exigências formais, virou cidade e comarca que, de tão apressada, diversificada e impactante, ninguém mais sabe o seu tamanho.

(Martiniano J. Silva, escritor, advogado, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHG-GO, UBE-GO, mestre em História Social pela UFG, professor universitário, articulista do DM – martinianojsilva@yahoo.com.br)

Mineiros.com
Conhecida como "cidade saúde", acolhedora e em rápida evolução e crescimento, antigamente denominada a Princesinha do Sudoeste, Mineiros convida todos a uma visita para conhecer e investir nessa promissora cidade. Curta e contribua com o site enviando suas histórias, fotos e sugestões.
RELATED ARTICLES

Most Popular

Recent Comments

Walley Marlos Pereira on José Alves de Assis
Marisley Gomes Martins on José Alves de Assis
Pedro Nicomedes de Rezende on José Alves de Assis
Pedro Carlos Cunha on Dom Eric Deichman & Lavoura
Rildo Rodrigues de Oliveira on Martiniano José da Silva
Rizan Luiz Pereira on Mercadão Municipal de Mineiros
laurecy cabral de mello on Martin Doido
antonio elviro de rezende on Mercadão Municipal de Mineiros
Diomar Rodrigues da Silva on Cachoeiras e riachos belíssimos em Mineiros
claudionor ramos goes on Dom Eric Deichman & Lavoura
Lucinda Freese Alves on Martin Doido
Jailton Araujo on Martin Doido
gilzete on Martin Doido
elias on Martin Doido
NARA RÚBIA on Time dos Gordos – 1964
Vinícius de Queiroz Rezende on Mineiros de Antigamente – Praças
Solene Lopes de Oliveira on Mineiros de Antigamente – Praças
jeovargues b resende on Martin Doido
angela.aparecida.sabina dos santos on Martin Doido
Norma Ataídes Ferreira Mota. on Time dos Gordos – 1964
juraci alves de alcantara on Fundador de Mineiros
degleiber de oliveira on Time dos Gordos – 1964
Carlos |Alberto Flores Chaves on Mineiros de Antigamente – Prefeitura & Comiva
marcelo de oliveira sousa on Mineiros de Antigamente – Praças
WAGNER IRINEU SOUSA on Mineiros de Antigamente – Praças
valter machado costa on Martiniano José da Silva
eide araujo on Mineiros1941-7
Josias Dias da Costa on Mercadão Municipal de Mineiros
João Bosco Barbosa de Souza on Cachoeiras e riachos belíssimos em Mineiros
Ivan Ferreira Domingues on Mineiros de Antigamente – Fotos Aéreas
Mineiros.com on Fundador de Mineiros
silverio on Fundador de Mineiros
Josias Dias da Costa on Fundador de Mineiros
wesley martins da silva on Paulo Freire
jonnathan on Paulo Freire
Celino Alexandre Raposo on Paulo Freire
Nice on Paulo Freire
Rita de Cássia Martins Medeiros Costa on CAD – Cidadania com Amor e Disciplina
Maryland on Paulo Freire
ilcilene ferreira de sousa on A escola serve para que?
ilcilene ferreira de sousa on Mãe e Aluna sobre disciplina do CAD Tol. Zero
Marta Maria de Paula Aragão on CAD – Cidadania com Amor e Disciplina