Época do cursinho, para o vestibular, é marcada pela ansiedade, adaptação fora de casa, insegurança e incerteza do futuro. Agora quando se junta tudo isso, mais a dureza financeira, a coisa fica quase insuportável.
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No cursinho o estresse fica quase sempre no limite e cada colega ao lado na sala é seu possível concorrente. Cada um tem seu próprio jeito de estudar as matérias: alguns preferem as tarde, outros as noites e tem os notívagos, ou famosos varadores da madrugada.

Nesta época, há quase cinquenta anos, estava na moda o uso das calças Jeans, sendo que as mais conhecidas eram: a marca LEE e LEWIS. Estas raridades custavam caro por serem importadas. A grande maioria chegava de forma ilegal no país -, contrabandeadas.

Para pousar de bacana com uma dessas joias, principalmente os durangos, tratava-se de tarefa duríssima. Muitas vezes ficávamos na fila para ganharmos uma surrada já em final da vida de algum colega mais abonado.
Quando não dava mais conserto fazíamos bermuda e assim prolongávamos seu uso. Só dei conta de comprar minha primeira LEWIS, em suaves dez prestações. Claro, o dono da loja era meu amigo e se chamava Nido Bianco.

De posse à minha nova beca, tratei logo de fazer os ajustes e adaptar as pernas ao estilo “boca de sino”, moda na época. Também mandei bordar as iniciais do meu nome no bolso. Sua cor azul escuro adornada com linhas amarelas me deixava galã, e autoconfiante nas paqueras.

A primeira vez que a usei foi combinando com uma camisa vermelha de gola rolê, presente de um amigo após usá-la intensamente. Meus sapatos plataforma com dez centímetros de altura, cabelos longos e a barba crescida, fazia sucesso nas festas e nas brincadeiras dançantes.

A primeira lavada aconteceu depois de seis meses de uso, eu temia que desbotasse e ficasse com aspecto de velha. A onda hippie da época nos ajudava sermos um pouco desleixados no vestir.

Após quatro anos de faculdade, minha Lewis deu sinal de cansaço, sendo transformada em bermuda, por outros dois.

Por conta desse meu investimento, tive que apertar meu, já minguado, orçamento um pouquinho mais. Parei de jantar para economizar e a vitamina de mamão com leite foi a minha salvação até a quitação de minha bendita.

Nada do que passei me envergonhou na vida, muito pelo contrário, tirei grandes lições, tantos dos erros como dos acertos. E olha que não foram poucos!

Aconselho aos jovens nunca se envergonharem de suas condições financeiras, muito menos da pouca cultura de seus pais. Tenham orgulho por terem nascidos com saúde, inteligência e numa família de bons princípios. Lutem por aquilo que acreditam. Não desistam nunca.

“Os homens que tentam fazer algo e falham são infinitamente melhores do que aqueles que tentam fazer nada e conseguem”.

Todos nós estamos programados a ter sucesso. E ter sucesso não significa exatamente nos tornarmos ricos e poderosos. O sucesso é inerente a cada ser humano, cada qual o enxerga e busca da maneira que lhe convier e lhe fizer feliz.

Até hoje não desprezo doações de roupas usadas por meus filhos. Eles as descartam ainda seminovas. Creio ser dessa época de dureza que adquiri o hábito de só descartar uma peça de roupa depois de muito uso.

Tenho camisas com mais de dez anos no trampo, e, em perfeito estado de conservação. Onde está a lógica em descartá-las? Saiu de moda? Não pra mim!

A briga com minha esposa é constante, vira e mexe sinto falta de uma calça ou camisa. Dou uma busca nos esconderijos e lá vejo as minhas estimadas e inseparáveis companheiras. Muitas vezes as resgato em surdina, outras não tenho sucesso e vão para doação. Bom também!

Vendo fotos um pouco mais antigas me surpreendo ao ver-me vestindo uma camisa que eu gostava muito e sumiu. Indago à esposa se ela tem notícia da mesma. A resposta é sempre a mesma. – Já estava velha e você doou faz muito tempo, não se lembra? Como lembrar? Isso é gozação! “A preocupação olha em volta, a tristeza olha para trás e a fé olha para frente”.

E VIVA A ALEGRIA DE VIVER!
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Osvaldo Piccinin, engenheiro agrônomo, formado pela USP-Esalq, em 1973. Natural de Ibaté, é empresário e agricultor e mora em Campo Grande/MS, colunista do site Mineiros.com, email: osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br.

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