Não entendo como não afirmar que a educação ou ensino no Sudoeste Goiano, assim como pelo Estado afora, no longo período que chamo da economia agropecuária ou do boi (1820-1970), começa nas fazendas. Foi assim em Rio Verde das abóboras, Jataí das abelhas, Caiapônia das torres do Rio Bonito, dentre outras cidades, destacando Mineiros das nascentes do Rio Araguaia e dos belos encantos do Parque Nacional das Emas, Patrimônio Natural da Humanidade (2001), onde a educação também se inaugurou nas fazendas. Na realidade, o que pretendo escrever com relação a educação em Mineiros, pelo pouco que dela entendo e assimilo, é fazer-lhe um breve “relato” introdutório, a bem dizer, narrar uma visão panorâmica de sua história inaugural, tentando, assim, relembrarr sua historiografia futura, sem me valer, portanto, de técnicas apuradas, erudições ou sistemas teóricos a ela adotados, o que deixo para os versados no assunto, podendo desse modo dizer que ela, na sua singeleza pedagógica inicial, começa realmente nas fazendas deste extremo Sudoeste de Goiás, como na Flores do Rio Verde, na Babilônia, na Invernadinha e outras, fechando oito décadas (1890-1970), até virar escolas rurais do município de hoje em dia, mostrando que sem as fazendas, não haveria escola rural, certamente, nem as urbanas.
O que é certo, é que os fazendeiros, apesar das dificuldades da época, como o isolamento e a falta de pessoas adequadas, costumavam manter professoras para o ensino das primeiras letras, o chamado “beabá”, quase sempre vindas de fora, às vezes de longe, para proferir aulas para as crianças das fazendas, assunto que exigia certos requisitos: algum conhecimento e experiência pedagógica do professor, distâncias, local e sede da fazenda que se comunicasse melhor com as demais, inicialmente distantes umas das outras, de onde os moços acompanhados pelos pais, parentes, pessoas de confiança, incluindo escravos, só tinham três meios de tráfego para chegar ao local: à pé; predominantemente à cavalo; e em carro de boi, importante meio de tranporte chegado no Sudoeste somente a partir de 1820 do século XIX.
Vemos que era uma educação dotada de características pedagógicas para os limites do ambiente rural, entre os mais grã-finos chamado “rústico”, às vezes praticada até debaixo de árvores, como os viçosos mangueirais e outras frutíferas frondosas, bucólicas, nas quais, se chovesse, não havia aula para a alegria dos alunos, peraltas em qualquer lugar. Esse “sistema”, se assim puder defini-lo, fecha o período citado de oito décadas (1890-1970), começado em um povoamento rural, disperso, tipo patrimonialista, definido pelo sociólogo e escritor Antônio Cândido, que vira 2º Distrito de Jataí em 1892, vila e município em 1905, cidade e emancipação política em 1938 e comarca nos anos 1943-1944, quando se teve que trazer o primeiro grupo escolar denominado “Pedro Ludovico Teixeira” (1941-42). Foi durante esse período que os professores e alunos das “escolas” rurais, mantidas pelos donos das velhas fazendas, foram se escasseando e lentamente desaparecendo, atraídos por melhores escolas, públicas e de ordem privada, geralmente no setor urbano. É curioso como esse processo de mudança começa com a criação da primeira escolinha – pública, “urbana”, deste lugar, regulamentada pelo Código de Posturas de 1909, que funcionou em uma casa de “Madeira” na esquina da Praça “Coronel” Joaquim Carrijo de Rezende, virando um certo período local de baile e dança, para a qual vieram alunos das fazendas; além de outras escolas criadas pelo mesmo Código de Posturas Municipal, sediadas na vila ou não, o grupo escolar Pedro Ludovico, mencionado, dos quais ainda falarei.
A Escola Evangélica de Mineiros de 1953, que mantinha curso primário e em 1960 transformou-se em Instituto Erasmo Braga, fundada pelo grupo evangélico protestante, liderado pelo reverendo Eudóxio Mendes dos Santos e a inegável participação do dr. Francisco Filgueiras Júnior, a quem Mineiros muito deve na Medicina e na educação; assunto a ser abordado conforme seu merecimento. O Ginásio Santo Agostinho da década de 1950 e as várias escolas públicas e de ordem privada surgidas a partir de 1970, com a acelerada expansão do capital vindo do Sul e Sudeste para os campos e Cerrados da região, transformando a velha economia do boi em acelerada economia de mercado, com todas as suas consequências, incluindo os rigores disciplinares das fortes influências político-pedagógicas impostas pela chamada Revolução de 1964, mudando quase tudo na cidade e no campo, onde o antigo sistema educacional sediado nas fazendas, desapareceu completamente, dele só restando algumas lembranças dignas de registro.
Dentre outras, a de Arlindo Alves Moreira, amazonense de Itiquatiara, dedicado professor não sei de quantos alunos, entre os quais, José Carvalho Vilela, o “Zeca da Cainda”, na Fazenda Morada Alta, então Município de Jataí, pertencente ao coronel José de Cavalho Junior, Zeca Lopes, ora em Perolância, local de um dos combates mais crueis da passagem da Coluna Prestes; Aristóteles Sobral, procedente da Bahia, que lecionou na cidade e fazendas do Ribeirão Grande; “Manoel Tundá”, professor inclusive de Antônio Paniago, na zona rural de Santa Rita do Araguaia, onde a palmatória, de tão frequente, foi ironizada com o apelido de “Santa Luzia”; professor Flávio Almeida, que, além de lecionar na primeira escola pública do município, na Praça do “Coronel”, orientava pessoas da zona rural; Otalécio Alves Irineu, homem curioso dedicado ao município que, além de professor rural, no setor urbano foi professor da própria mulher, dona Ovídia, com a qual se casou; o mesmo acontecendo com o cuiabano, professor Benedito Rodrigues de Siqueira, vindo de Cuiabá por influência do general Rondon, que proferiu aulas para dona Arlinda do Matão, com a qual se casou, ambos deixando fecunda prole em Mineiros.
(Martiniano J. Silva, advogado; escritor; membro do Movimento Negro Unificado (MNU); membro da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes – IHGGO – Ubego; mestre em História Social – UFG; articulista do DM; e-mail: martinianojsilva@yahoo.com.br)