Quando Mineiros só era a formação de algumas fazendas, no longe Sudoeste goiano, por volta de 4 de setembro de 1881, existindo apenas Rio Verde e os arraiais de Jataí e Rio Bonito, depois Torres do Rio Bonito, atual Caiapônia, o ensino, quando existia na região, era muito precário, às vezes começado até em casa “de paiol” de alguma fazenda; não podendo esquecer que no chamado “setor urbano” destes lugares bucólicos havia raras escolas de primeiras letras do sexo masculino, mais vezes sem funcionamento, fechadas. Foi assim que o povo do arrayal de Jatahy, sem outro meio para resolver o caso, encaminhou reclamação ao governador da Província, dr. Joaquim de Almeida Leite Moraes, em Vila Boa, Capital, através de carta do seguinte teor:
“Digníssimo presidente de Goyaz.
Talvez porque esta parte esteja tão distante dessa Capital, em tudo e para todos faltando, a única aula do sexo masculino está fechada e não sabemos a razão.
Sabe o senhor muito bem da importância de ser ministrado ensino às nossas creanças, que não custa tanto aos cofres desta rica Província.
Somos premidos pelas famílias para busca de solução. Muitas crianças não vêm a aula porque são pobres, outras, que são filhas de escravos, há ainda aquelas que moram mais distante ou estão na lida com os pais.
Deixar como está é cometer sacrilégio contra essas criaturas. Por tudo isso, somos esperançosos de suas providências que naturalmente tão logo hão de vir.
Deus guarde e ilumine Vossa Excelência.”
No mesmo texto, oferta do querido Binômino da Costa Lima (Meco), notório saber sudoestino, de universidades e do algarve, está escrito, merecendo transcrição:
“Logo depois, em 7 de novembro daquele ano (1881), por iniciativa do deputado André Rios, a Assembleia Legislativa decretava: “Artigo Único – Fica restaurada a escola de primeiras letras do sexo masculino da Freguesia do Jatahy, no Município de Rio Verde.”
Já no século XX, cinquenta e nove anos depois (1940), Mineiros, no extremo Sudoeste do Estado, passava por situação parecida. A “instrução”, como se chamava a praxis educacional, além de precária, tantas vezes não funcionava. Segundo “Dados Sinóticos Sobre o Município”, descritos por Otalécio Alves Irineu e José Alvim, nos anos 1939/1940, já havia no município 3 escolas mantidas pelo Estado, não declinando nomes, sendo 2 na sede e uma na Vila de Santa Rita do Araguaia, advertindo, porém, que “estas escolas há mais de ano que estão fechadas, visto ser o ordenado insuficiente para a manutenção dos professores”; informando também que “… existem 4 escolas mantidas pela municipalidade, sendo 3 na sede e uma na Vila de Santa Rita, a saber: Escola José do Patrocínio, Escola Princesa Izabel, Escola Americano do Brasil e Escola Couto de Magalhães” (Santa Rita).
Conforme Monografia Brasileira, n. VI, ano VI (julho-1970), publicação responsável pela divulgação dos municípios, direção Darcy Moreira, impressa na Tipografia Universal do João “Bombinha”(João Alves da Costa), desta cidade, em 1953 foi fundada a Escola Evangélica de Mineiros, na antiga Rua 15 de Novembro, hoje a sem graça e sem alma Rua 14, onde mantinha o curso primário, tendo como fundadores a Igreja Presbiteriana de Mineiros e seus dirigentes, reverendo Eudóxio Mendes dos Santos e dr. Francisco Filgueiras Junior, dentre outros, chamada carinhosamente, “Escolinha Evangélica”, por certo tempo dirigida por dona Iraci dos Santos, esposa do reverendo. A partir de 1960, foi transformada em Instituto Erasmo Braga, mantendo os cursos primário, ginasial, comercial e técnico de contabilidade, já localizada na 2ª Avenida, nº 58, telefone 55, em frente à Praça da Bandeira, posteriormente “José Alves de Assis”, onde hoje em dia está a Faculdade Fama, de que ainda falarei. De 1953 a 1959, manteve os cursos pré-primário e primário.
Consoante documento de 6/8/1973, a mim fornecido pelo então diretor, reverendo Eudóxio Mendes dos Santos, de 1960 até o ano citado (1973), o Instituto manteve os seguintes cursos, Maternal, Pré-primário, Primário, Datilografia, Ginasial de Comércio e Técnico de Contabilidade. Por certo período, sem perder a originalidade, chamou-se Colégio Comercial do Instituto Erasmo Braga, no mesmo endereço, mantendo os seguintes cursos: Jardim da Infância, Primário, Admissão, Datilografia Ginasial de Comércio e Técnico de Contabilidade. Até 1971, esteve vinculado ao Sistema do Ensino Federal. Os seus cursos Ginasial e Técnico de Contabilidade foram autorizados a funcionar pelas Portarias nºs. 195, de 2 de julho de 1960, e 263 de 13 de dezembro de 1972, e pela 5.692, foi vinculado ao Sistema de Ensino estadual, quando, apoiada pelos políticos locais, o Estado assumiu responsabilidade pela Escola, em certo período, por certo, pagando professores e outras despesas.
Trata-se de escola particular, mista, leiga, o Instituto Erasmo Braga, de tantos serviços prestados à comunidade mineirense e à crença religiosa dos seus fundadores, que por ela tanto lutaram, ao completar 17 anos de vida, em 1970, chegou a manter, como informa a Monografia citada, 38 professores, dentre outros, reverendo Eudóxio, Iraci dos Santos, dr. Francisco Filgueiras, Eduarda Filgueiras, Amália Monhn, dona Clara, dr. José Antônio de Carvalho Neto, Afonso Carrijo, dr. Demilson Serafim, dra. Norma, Chico Bahia, dr. Roldão e até o escriba proferiu aulas de Noções de Direito no curso de Contabilidade. A Escola funcionava em três períodos nos quais estavam matriculados 995 alunos, assim distribuídos: no curso primário composto de 13 classes, sendo no 1º ano 4 classes com 132 alunos dos quais 71 masculinos e 41 femininos; no 2º ano 3 classes com 77 alunos dos quais 41 masculino e 36 feminino; no 3º ano 3 classes com 112 alunos, sendo 60 masculino e 52 feminino, e 4º ano 3 classes com 119 alunos, sendo 51 masculino e 68 feminino.
No curso do Ginásio Comercial eram 9 classes, assim distribuídas: no 1º ano 3 classes com 156 alunos dos quais 75 masculino e 81 feminino; no 2º ano 2 classes com 109 alunos, sendo 56 masculino e 53 feminino; no 3º ano 2 classes com 84 alunos dos quais 37 masculino e 47 feminino; no 4º ano 2 classes com 81 alunos, 39 masculino e 42 feminino, funcionando também no estabelecimento o curso de Datilografia com 30 alunos dos quais 21 masculino e 9 feminino. Mantinha uma Biblioteca com cerca de 800 volumes, chamada “Maria Clara Condinho”, na lembrança dos seus frequentadores. A civilidade, delicadeza, polidez e cortesia mineirenses, certamente, têm muito a ver com esta escola. São a presteza de dr. Francisco Filgueiras Junior, a cara alegre do reverendo Eudóxio Mendes dos Santos, a rara compreensão de sua esposa, dona Iraci, dedicada professora das primeiras letras; não podendo esquecer, de nenhum modo, a labuta da vassoura e do agradável aroma do cafezinho gostoso, de dona Maria Francisca Santos, saudosa “dona Dilá”, mãe de Ezalmone Moreira dos Santos, o Mone, músico, sociólogo, professor, um dos poucos doutores com este título no burgo mineirense.
(Martiniano J. Silva, escritor; advogado; membro do Movimento Negro Unificado (MNU), Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, Ubego; mestre em História Social – UFG; professor universitário; articulista do DM; e-mail: martinianojsilva@yahoo.com.br)