Estou para conhecer alguém neste mundo que, ao sentar numa poltrona de avião antes da decolagem, pouso ou diante de uma forte turbulência, não faça uma reflexão ou não peça uma proteçãozinha para seu santo.
Eu, por exemplo, faço o sinal da cruz e peço proteção. Além disso, dou uma conferida no perfil dos passageiros. Ao ver crianças, sinto um confôrto imediato, porque logo penso: Deus protege as crianças e os adultos cagões -, também.
Sinto-me protegido em supor que Deus não vai querer um final trágico para esses inocentes, afinal, ainda não viveram nada; e como faço parte da comitiva…
Ao notar um padre de batina tenho a impressão que estou viajando ao lado de Jesus, principalmente se estiver com aquele enorme crucifixo pendurado no pescoço e rezando o terço. Se tiver freira como passageira, aí durmo tranquilo, antes da decolagem. Estas estão sempre rezando ou cochichando com Deus!
Tempos atrás, querendo ser gentil, viajando ao lado de um conhecido que não conseguia disfarçar sua ansiedade e medo, perguntei-lhe se estava tudo bem. Ele meio desenxabido me disse: – está tudo bem, mas morro de medo de “andar de avião”, só viajo mesmo, por não ter outra opção viável, no meu trajeto. Veja minhas mãos como estão suadas.
Ainda tentando dissuadi-lo do medo, emendei: – fique tranquilo, ninguém morre antes da hora. Foi aí que ele me veio com esta: – mas como saber qual será a hora de quem? Vai que é a do comandante ou de qualquer outro passageiro? O homem lá em cima vai botar todos no mesmo saco, não é mesmo? Eu repliquei: – às vezes não, ele pode apartar alguém.
Eu, por exemplo, viajo tão tranquilo e com a certeza que se o avião cair eu sobreviverei. Imagina ouvir esta notícia no jornal Nacional no dia seguinte? Avião cai com cento e vinte passageiros e teve apenas um sobrevivente. O nome do sortudo é Osvaldo Piccinin!
Numa outra viagem sentei-me ao lado de um pastor, que antes da decolagem abriu sua bíblia e começou a leitura de forma compenetrada. Ao passarmos por uma forte turbulência, puxei conversa e perguntei-lhe se podíamos ficar tranquilos pelo fato dele ser um homem de Deus e estar lendo o livro sagrado.
Disse-me quase sussurrando, para que ninguém mais ouvisse: – leio a bíblia pra afastar o medo terrível que sinto das viagens de avião. Pensei: agora lascou -se! A vaca foi para o brejo com a corda e tudo!
Nenhuma viagem aérea que fiz foi mais engraçada e ao mesmo tempo dramática, como aquela em que um passageiro descontrolado levantou-se da poltrona, e em voz alta pediu para que todos prestassem atenção em suas palavras.
Mediante profundo silêncio, disse: – quero saber quem foi o mal educado que fez isso? – Por acaso se esqueceu de ir ao banheiro?- Aqui no avião também tem banheiro. – Tenha a santa paciência, nosso nariz não é pinico!
Diante daquela cômica cena, só nos restou rir muito, principalmente ao ver a cara do coitado sentado ao seu lado. O jovem fazia ares de que o assunto não era com ele, e se comportava como alguém que desconhecia o porquê de tanto alvoroço ao seu redor. Mas ele bem que sabia o que estavam pensando. O “quem cala consente” estava na cabeça de todos.
Numa outra viagem caprichei no visual e devo ter exagerado na fragrância. Por ocasião ao meu lado sentou-se uma senhora de meia idade, toda espevitada, que reclamava “da falta de ar”. Abri o dispositivo sobre sua cabeça, e perguntei-lhe se havia melhorado. – Agora estou conseguindo respirar, pelo menos.
Em seguida, olhando-me nos olhos com ar de indignação, tascou: – deveria ser proibido o uso de perfumes pela manhã. Principalmente perfumes doces… Sinto ânsia de vômito! Chamou o comissário e pediu para trocar de lugar alegando estar passando mal. Durante a viagem ela mudou de lugar cinco vezes, pelo menos. Tratava-se de uma desajustada. Ainda bem. Pensei que fosse meu perfuminho Paraguaio!
E VIVA AS VIAGENS DE AVIÃO!
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Osvaldo Piccinin, engenheiro agrônomo, formado pela USP-Esalq, em 1973. Natural de Ibaté, é empresário e agricultor e mora em Campo Grande/MS, colunista do site Mineiros.com, email: osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br.
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