Profissionais concordam que há elementos de vingança e pedido de atenção em massacre em escola no Rio.
Uma vítima de bullying em busca de vingança e atenção. Embora ainda esperem mais dados, especialistas em violência escolar dizem que Wellington Menezes – o rapaz de 24 anos que matou 11 crianças, feriou outras 13 e morreu em uma escola no Rio de Janeiro – agiu como quem sofreu durante a vida estudantil.
Talvez ele tenha sido vítima de Bullying como o adolescente Felipe, um garoto que sempre sofreu com o ”Bullying” na Escola cometido por outros alunos, seu corajoso depoimento e os danos psicológicos que até hoje demonstra sofrer..
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O perfil social do atirador do Rio de Janeiro seria o primeiro indício. Segundo uma irmã, ele era “estranho” e “sem amigos”. A pedagoga Cléo Fante, autora de livros sobre bullying, vê nesta descrição uma pessoa com problemas sociais e carência. “Pode ter sido uma tentativa de sair do anonimato e chamar atenção uma única e última vez”, comentou.
Também colabora para a tese o cenário que escolheu para o massacre. Menezes se armou, escreveu uma carta, pensou em uma desculpa para passar pelo portão e voltou à escola municipal Tasso da Silveira, lugar que freqüentou como aluno. “Isso leva a hipótese de vingança”, diz o coordenador do Observatório de Violência nas Escolas da Universidade da Amazônia (Unama) em convênio com Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), Reinaldo Nobre Pontes. “Ele parece ter planejado a agressão, tão grande que incluía a própria vida, como uma forma de devolver o sofrimento à sociedade. A escola devia ser para ele a maior representante desta sociedade.”
Bullying que ele sofreu é comum nas escolas:
Desajeitado e arredio, o atirador Wellington Menezes de Oliveira era alvo de chacotas de colegas da Escola Municipal Tasso da Silveira, palco do massacre. Na adolescência, foi rejeitado pelas meninas. “Desde pequeno ele tinha distúrbio mental e sofria isso que chamam de bullying”, diz A., seu irmão adotivo de 44 anos.
Sob compromisso de não ser identificado – a Secretaria de Segurança do Rio lhe alertou que pode sofrer retaliação -, A. contou ao Estado que, ainda criança, Wellington recebeu diagnóstico de esquizofrenia. Ele foi adotado pela tia, Dicéia de Oliveira, mãe de A. “Lembro do dia em que ela chegou com aquela criança assustada no colo. Ele tinha de 6 a 7 anos quando começou a tomar remédios controlados.”
Por volta dos 13 ou 14 – idade das vítimas -, Wellington abandonou os remédios. “Desde então sua esquisitice só piorou. Ele tinha obsessão pelo Velho Testamento da Bíblia”, relatou A., negando que o irmão tivesse ligação com o Islamismo, como se especulou após a chacina.
A preocupação da família cresceu quando Dicéia percebeu que Wellington, já então viciado em internet, passou a ler manuais de fabricação de explosivos e manuseio de armas, além de pesquisar atentados terroristas, com predileção por homens-bomba do Oriente Médio. Segundo A., Wellington tinha preferência mórbida por cenas violentas e foi censurado pela família por comentar com empolgação o atentado contra Nova York, em 2001.
Os problemas se agravaram com a morte do pai adotivo, há cinco anos. E Wellington se isolou de vez após a morte de Dicéia, há dois, quando foi morar em Sepetiba, na casa deixada pelo pai. Especula-se que a partir daí passou a planejar o massacre. “Fiquei perplexo, como todo mundo, quando vi na TV a habilidade com que ele usava armas”, diz A. Para ele, Wellington aprendeu tudo na internet.
Facilidade para andar armado
O especialista afirma que o fato, por ser inédito nestas proporções no Brasil, ainda precisa de análise, mas lembra que casos similares no mundo reuniram dois componentes: pessoas revoltadas e facilidade em comprar arma. Ele conta que esteve na Alemanha e conversou com pessoas que acompanharam o caso de Winnenden, em que um aluno matou 12. “Era um jovem de classe média que tinha um pai colecionador de armas, já nos Estados Unidos, onde há mais casos, a aquisição é mais fácil”, diz.
A psicóloga com livre docência em violência da Universidade de São Paulo (USP), Sueli Damergian, também frisa o acesso às armas como parte do problema. “Todo mundo tem uma carga de agressividade dentro de si, a maioria consegue lidar, outras não, mas o meio ambiente não pode dar a oportunidade da violência, com o fácil acesso a armas.”
Escola não tem mais vocação Humanista
Para ela, a escola tem sido palco de atos de violência porque reflete cada vez mais uma sociedade competitiva em que há mais chances de pessoas serem ou se sentirem hostilizadas. “Não é uma coincidência que estes casos no mundo todo ocorram em ambiente escolar. É claro que para uma vítima de bullying reagir dessa maneira precisa ter um desequilíbrio, mas as agressões são cada vez mais freqüentes”, diz.
Sueli acredita que apenas a humanização do processo educativo reverteria a tendência à violência. “A escola perdeu a vocação humanista e trocou a atenção ao ser humano por uma grande competição estimulada por todos, inclusive pais. O tempo todo busca-se saber quem é o melhor, o mais bonito, etc. e quem não se adéqua é hostilizado.” Fonte, IG.
Veja também vídeo de reportagem sobre Bullying do Jornal Nacional (Rede Globo):
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