O Aluno disse que queria dar um susto na Professora e os Psicólogos da Escola sabiam …
Uma brincadeira que deu errado e terminou em tragédia. Segundo as investigações, essa seria a lógica pelos dois tiros disparados pelo aluno D., de 10 anos, na Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, no ABC paulista, na última quinta-feira.
Ele se matou após ferir a professora Rosileide Queiros de Oliveira, de 38 anos. A hipótese surgiu nesta segunda-feira, 26, depois que a delegada responsável pelo caso, Lucy Mastellini Fernandes, ouviu a diretora e uma orientadora do colégio.
No dia da tragédia, um dos colegas de classe de D. chegou em casa e pediu aos pais que voltassem com ele à escola, porque precisaria contar o que sabia. Ele foi recebido por uma das seis psicólogas que trabalham no local e explicou que D. havia comentado que pretendia dar um susto na professora e que tudo não passaria de uma brincadeira.
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“Em seguida, com medo das consequências, ele teria dado cabo da própria vida. É uma informação que a gente toma, mas é preciso checar primeiro. Vamos confirmar com a psicóloga esse relato, saber de quem e o que ouviu exatamente”, afirma Lucy.
- A Delegada de Polícia disse que a história foi contada pela diretora da escola, Márcia Gallo, durante o depoimento desta segunda, mas seria ainda “muito genérica”, sem os detalhes necessários para traçar uma linha de investigação.
Mesmo assim, Lucy diz que a versão parece razoável. “Seria a hipótese mais plausível, por se tratar de um bom menino, sem problema com a professora. Dá a impressão de que o tiro pode ter sido acidental.”
Também prestou depoimento a orientadora pedagógica Zeni Giraldi Mestre, que tinha pouco contato com o menino. A polícia recebeu nesta segunda imagens de três câmeras da escola, mas elas ainda não foram analisadas, segundo Lucy.
- Depoimentos. Pelo menos oito pessoas prestarão depoimento nesta semana. Na tarde da terça-feira, a psicóloga e mais cinco alunos, incluindo o que teria contado sobre a brincadeira que deu errado, serão ouvidos pela delegada na própria escola. A intenção é evitar expor os quatro meninos e a menina ao ambiente da delegacia. Eles serão acompanhados por profissionais.
“Ele falou que ia matar a professora e se matar, senão o pai brigaria com ele”, disse D.A.S., de 10 anos, colega de sala do garoto. Ele diz que pouco antes do disparo, no recreio, brincou de pega-pega com D. Eles se conheciam havia dois anos. “Ele sentava na penúltima carteira da segunda fileira da sala. E era calado. Não disse por que atiraria.”
O garoto conta também que foi ao banheiro logo no início da aula de Português. Quando voltou à classe, encontrou D. no corredor, depois do primeiro tiro. “Eu falei ‘e aí, D.?’ e ele respondeu ‘e aí?’. Eu virei e escutei um barulho. Quando vi, ele estava caído na escada, já com sangue.”
V.K., de 1o anos, que cursou todo o ensino infantil com D., contou que ele sempre foi muito quieto. Ele também ouvira o boato sobre o disparo contra a professora. “O D. falou que ia matar e que estava com a arma. Mas ninguém acreditou. Ele era muito tranquilo”, disse V.
V. é da turma da sala vizinha à de D. e ouviu o barulho dos tiros. “A professora estava escrevendo na lousa e caminhou até a porta dizendo ‘ai, tá doendo, tá doendo’. A nossa professora colocou a gente na sala, trancou a porta e colocou mesas na frente.”
- Histórico. Mais de 50 colegas de D. estiveram no enterro do menino, no Cemitério das Lágrimas, a 500 metros da escola. Pais e alunos relataram que este não foi o primeiro caso de violência no lugar, apesar de reconhecerem que trata-se de um colégio “disputado” e de bom ensino.
Em maio, vários alunos de 13 e 14 anos levaram bebidas alcoólicas para a sala. Em 2010, houve outros três casos: uma bomba caseira foi acendida em sala; um aluno de 9 anos foi ameaçado com um canivete por outro de 13; e um aluno de 14 teria levado para a escola um soco-inglês. F. Estadao.