Hoje pela manhã ao remexer meu pequeno baú de recordações, deparei-me com uma cartinha escrita, a mão, há quarenta anos pelo meu saudoso pai.
Amarelada, pelo tempo guarda em suas linhas, bem visíveis, demonstrações de afeto e carinho pelo filho que vive distante.
Foi postada assim que me formei e fui trabalhar em Belém do Pará -, distantes três mil quilômetros de casa. Chegou ao meu minúsculo apartamento em dezembro de 1974, faltando quinze dias para o Natal. Nela está a seguinte mensagem:
Querido filho, espero que esta lhe encontre com muita saúde. Estou escrevendo para lembrá-lo de vir passar o final do ano aqui em casa, pois se não vier esta seria a primeira vez, em nossa família, que passaremos o Natal e ano novo sem que estejamos todos reunidos.
Eu e a sua mãe estamos sentindo muito sua falta. Ela quer saber se você está se alimentando direito e cuidando da saúde, pois a malária que contraiu é coisa séria. Se cuide!
Por aqui está tudo bem apesar de muita saudade. O nosso sítio está bonito. Renovei quase todo canavial e construí mais uma granja, onde deverá abrigar mais vinte mil frangos. Está parecendo uma cidade com as luzes acesas, durante a noite.
Acabou de chegar quase quarenta mil pintinhos. Daqui a cinquenta dias serão frangos pesando três quilos cada. Incrível né?
As paineiras que você plantou, entre as granjas, estão lindas. Eu irrigo todos os dias. Meu sonho é vê-las florindo, igual aquela que tínhamos na margem de nosso riozinho, mas creio que vai demorar um pouco porque estão novas.
Elas me faz lembrar o dia de sua formatura, quando juntos arrancamos as três mudinhas debaixo de uma paineira velha em sua faculdade lá em Piracicaba.
Sua mãe manda dizer que aquela gatinha que você tanto gosta deu cria – três branquinhos e três pretinhos. A porca “Cassebra”, também pariu doze leitõezinhos. Estão muito sadios e acredito que não irá morrer nenhum. Só ela está muito magra, mas esperta.
A Tata, sua irmã, está dando aula numa escola da Usina da Serra e está muito contente. Começou a namorar o Carlito da farmácia, que agora é soldado. Nós gostamos desse namoro, porque ele é de boa família e muito esforçado. Acabou de entrar na faculdade de Engenharia em Araraquara e já fala em casar.
O Luizinho, nosso caçula, também foi embora estudar, só vem pra casa a cada quinze dias, parece que está gostando da faculdade. Ainda está de cabeça raspada, do trote que recebeu dos colegas. Tá parecendo um cotonete – magro e cabeçudo!
Você sabe que não sou muito de escrever. Minha leitura é fraca – falta-me treino. Naquele tempo, mal se aprendia escrever o nome e rabiscar poucas palavras, já tinha que agarrar no cabo da enxada.
Vou parar por aqui porque eu e a sua mãe somos dois manteigas. Fique com Deus e se cuide. Mande notícias.
PS: o papagaio que você enviou pelo motorista do caminhão já aprendeu a falar meu nome e o da gatinha. Cada vez que olhamos para ele, aumenta nossa saudade!
E VIVA AS CARTAS CHEIAS DE SAUDADE!
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Osvaldo Piccinin, engenheiro agrônomo, formado pela USP-Esalq, em 1973. Natural de Ibaté, é empresário e agricultor e mora em Campo Grande/MS, colunista do site Mineiros.com, email: osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br.
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