A partir de 1940, a história da Educação em Mineiros passou a ser enriquecida, com o surgimento de escolas públicas e privadas. Éramos mais de seis mil habitantes. Comarca criada e instalada (1944); Rodovia “Sul-Goiana” (1918), Rio Verde-Mineiros, mesmo que precária, passava por aqui na direção de Três Lagoas, no Mato Grosso, ora do Sul, pela qual Pedro Ludovico se deslocou de Rio Verde para inaugurar o primeiro Grupo Escolar estadual que tomou seu nome em Mineiros, assim como fez com relação ao Fórum e à Prefeitura. Dentre outros fatores, internos e externos, foi assim que, além do Grupo escolar citado, em 1948, Benedito Rodrigues de Siqueira, vindo de Cuiabá-MT, a pedido do general Rondon, para instalar fios telegráficos no trajeto Mineiros-Alto Araguaia, optou por morar em Mineiros, onde fundou a escolinha que tomou seu nome “Escola do Siqueira”, instalada na própria casa da Rua 15 de Novembro, ora Rua 14, sem alma e sem história, na qual conheceu e se apaixonou pela aluna do Bairro Matão, Arlinda “Rodrigues de Siqueira”, apelido carinhoso “Fiica”, com a qual se casou e fez amizades na cidade, onde continuou proferindo aulas particulares, durante anos, inclusive para os filhos, nas primeiras letras e curso de admissão, preparado com ardor, cujos exames eram feitos noutros municípios.
Nesse contexto, surgem na década de 1950, duas importantes escolas: o Instituto Erasmo Braga, particular, de que ainda falarei; e Ginásio Santo Agostinho, pública, objeto dessa abordagem. Parta de quem for a ideia de fundar e instalar um curso ginasial em Mineiros, de Silvestre da Costa Lima, apelido “Nego Costa”, por exemplo, prefeito entre 1951 a 1953, como é uma das versões; o certo é que a Lei n° 48, de 4 de março de 1950, que criou o Ginásio Municipal denominado “Santo Agostinho”, foi sancionada e assinada pelo prefeito Abel Martins Paniago (UDN/1947-1951), sendo ele, portanto, no mundo político-legal, o pai da criança; quando se saia de um dos períodos mais truculentos na interventoria de prefeitos nomeados, para um outro, também sombrio, de mortos e feridos, cuja história e seus segredos, são desafios a serem desvendados. Na mesma data de criação do Ginásio, fez-se a Lei n° 49, sancionada em 11 de março do ano citado, criando e regulando no município o “Fundo Pró-Construção do Ginásio Municipal Santo Agostinho”, ainda assinada pelo prefeito Abel Martins Paniago e secretário, Augusto Rodrigues. Dentre outras providências, definia como era constituído o Fundo, a procedência das verbas, que podiam ser federais, estaduais, municipais e particulares. Para execução do trabalho, foi nomeada uma Comissão, denominada “Construtora do Ginásio Santo Agostinho”, assim constituída:
Presidente: dr. Francisco Filgueiras Júnior; secretário: Antônio Paniago; tesoureiro: Altino José de Souza (falecido); diretor técnico: Dante Moscone (falecido); diretor administrativo: Barta Simão, fotógrafo (falecido). Aos 15 de maio de 1950, ocorreu a primeira reunião da Comissão Construtora, que decidiu executar o trabalho por etapas, começando com apenas três cômodos, com base nos seguintes recursos: Cr$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros), doados pelo Estado; Cr$ 18.627,00 (dezoito mil, seiscentos e vinte e sete cruzeiros), doados pela Paróquia de Mineiros ou Matriz; e o restante através de donativos pelo povo do município. Em 1955, já se pode realizar os primeiros exames de admissão e em 21 de fevereiro do ano seguinte (1956), quando foram matriculados os primeiros alunos e se iniciaram as aulas para os alunos da 1ª Série Ginasial, sob comando da primeira-diretora, a senhora Maria Zaida Veloso Rahall, esposa de dr. Suhail Rahal, vereador na época, conceituado médico, com dr. Francisco Filgueiras, fundador do Hospital Samaritano, merecendo dizer-se que foi dr. Suhail, na afirmação do rev. Eudóxio Mendes do Santos, quem tomou a iniciativa e se articulou para trazer inspetor do Rio de Janeiro para atender o Santo Agostinho, sendo que em 1959, já se formava a 1ª turma do curso ginasial, tendo como paraninfo de Honra, José Alves de Assis, até o momento, considerado a maior autoridade política de Mineiros.
Pela Lei Municipal n° 121, de 31 de outubro de 1955, sancionada pelo prefeito José Feliciano de Morais, em 1º de novembro do mesmo ano, a Prefeitura Municipal foi autorizada a manter o Ginásio Municipal Santo Agostinho, dizendo o artigo 2º: “Somente à Prefeitura cabe a administração do referido Ginásio, ficando ainda, a mesma, autorizada a efetuar todos e quaisquer atos pertinentes à direção do mencionado estabelecimento”, aí se vendo revogadas todas as disposições em contrário; mostrando que o município passava a ser o único responsável pela administração do dito Ginásio, desafiando, por sinal, as quase sempre cambaleantes finanças municipais, parecendo ser isso verdade, pois, a mesma autoridade, em menos de três anos depois, já doava o Ginásio às “irmãs da Sagrada Família”, vindas de Pernambuco, a seu pedido, conforme a Lei 163, de 6 de Fevereiro de 1958, sancionada por ele (José Feliciano), autorizando a Prefeitura “…a doar o prédio do Ginásio Santo Agostinho e respectivo terreno”, às irmãs mencionadas, fato que realmente aconteceu, prestando as religiosas um importante trabalho à educação mineirense, de modo especial aos católicos, após a criação do Instituto Erasmo Braga, tornando-se, assim, precursoras referenciais da história educacional de Mineiros. Contudo, a doação só se efetivou através de cuidadosas condições, merecedoras de transcrição:
I) “O edifício será destinado para nele funcionar um estabelecimento de ensino dirigido por irmãs da Congregação”;
II) O ensino será misto, até que haja nesta cidade, outro estabelecimento de ensino com o curso ginasial para o sexo masculino;
III) Se a Congregação retirar as Irmãs desta cidade, o prédio será revertido à municipalidade, sem direito de qualquer remuneração”.
As Irmãs assumiram a direção do Ginásio em 1º de março de 1958, cumprindo a lei com aulas mistas, ali permanecendo até o ano de 1970, quando reverteram o prédio à municipalidade e se retiram de Mineiros; virando 2ª diretora do Ginásio Santo Agostinho, a irmã Ana Lins Fialho, cognominada irmã Maria de Lourdes, já se podendo, portanto, dizer que, além das irmãs, dirigentes e professoras, lecionaram na Instituição as seguintes pessoas, qualificadas: Maria Eduarda Filgueiras, Afonso Carrijo, rev. Eudóxio Mendes dos Santos e o padre Maximino, falecidos; não podendo ser esquecido que, além de Maria Zaida Veloso Rahal e irmã Maria de Lourdes, que dirigiu a Escola por mais de uma vez, segundo a professora Maria Luíza de Carvalho Luciano, fundadora da Escola Nascentes do Araguaia, ainda foram diretoras as seguintes irmãs: Irmã Maria do Carmo Cordeiro (1960-1961); Laura Albuquerque (1961-1963); Corina Ramos de Vasconcelos (1963-1965); Maria de Lourdes (1966-a-1968); Maria do Carmo Cordeiro Silva (1968-1969) e irmã Marie Thérèse Cance, de 1969 a 1970, quando já se providenciava a criação do Colégio Estadual, que passou a se chamar “José Alves de Assis”, construído pelo engenheiro mineirense Carlos Antônio Luciano, inaugurado em 19 de janeiro de 1971, assunto a ser abordado, não podendo também ser omitido que o Ginásio Santo Agostinho, por certo período, até que se criasse o “José de Assis”, funcionou como escola estadual, época em que professores do nível do inesquecível Juarez Távora, também proferiram aulas.
Merece ser frisado que o velho Ginásio Santo Agostinho, apesar das rixas e os interesses político-ideológicos e religiosos, que chegaram a tumultuar sua vida, está são e salvo; antes de tudo, como a primeira e até o presente, a única edificação da cidade tombada como Patrimônio Histórico-Cultural do Município, através da Lei Municipal n° 750, de 11 de junho de 1997; sendo fundamental realçar que, pela Lei n. 729, de 22 de abril de 1992, foi transformado em Centro Cultural “Santo Agostinho”. Não há destinação melhor. Shakespeare (1564-1616) dizia, em: “Bem está o que bem acaba”. Ato V, que: “Louvar o que está perdido/torna querida a lembrança.”
(Martiniano J. Silva, escritor; advogado; membro do Movimento Negro Unificado (MNU); membro da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, Ubego; mestre em História Social – UFG; professor universitário; articulista do DM; e-mail: martiianojsilva@yahoo.com.br)