Embora as velhas escolas de Mineiros, sobremodo particulares, sempre tomassem o nome do dono, como o da “Escola do Siqueira” (Benedito Rodrigues Siqueira-1948), na antiga Rua 15 de Novembro, ora Rua 14, a “do Reverendo” (Eudóxio Mendes dos Santos-1951), iniciada na mesma Rua 15 de Novembro, de que ainda falarei, a primeira escola estadual, a chamar a atenção da cidade, foi o Grupo Escolar “Pedro Ludovico Teixeira”, fundado no início da década de 1940, por iniciativa do então prefeito interventor Pedro Arantes, cúpula política local, tendo à frente Antônio Getúlio da Silva, “Tonico Corredeira”, e apoio incondicional de Pedro Ludovico, governador interventor do Estado, líder inconteste da política goiana.
Localizado na Rua 3, antiga “coronel” José Para-Assu, Praça Ruy Barbosa, o Grupo Escolar “Pedro Ludovico” foi instalado em 26 de agosto de 1941, na presença de destacadas autoridades, prefeito Pedro Arantes, interventor Pedro Ludovico e esposa, dona Gercina Borges, Dr. Solon Almeida e senhora, Wandi Borges e senhora, e o Presidente do Tribunal de Justiça, des. Dário Délio Cardoso e senhora, banda de música da Polícia Militar, Antônio Getúlio da Silva, “Tonico Corredeira”, forte chefe político do PSD local, dentre outros, inaugurando-se, assim, com enorme alegria e o mais entusiástico foguetório, a escola com o nome de Grupo Escolar “Pedro Ludovico”, sendo curioso como as notinhas sociais da época não declinavam os nomes das mulheres das autoridades, exceção a de Pedro Ludovico.
Por exigência de Getúlio Vargas e Pedro Ludovico, o estilo arquitetônico adotado na construção do prédio foi “art dèco”, origem francesa, o mesmo adotado na construção do prédio da Prefeitura e do Fórum, na Praça “Coronel” Joaquim Carrijo de Rezende, inaugurado em 1944, com a instalação da Comarca, além de algumas casas e o “edifício do primeiro ginásio da cidade, denominado Santo Agostinho, iniciado em 1951, ainda preservado, tombado e transformado em Centro Cultural Santo Agostinho, a ser objeto de abordagem. Ao que sei, até o surgimento do Grupo Escolar “Pedro Ludovico”, a não ser raras modificações, perdurou o antigo sistema de ensino, primário e elementar, imposto por “regulamento escolar” previsto no Código de Posturas de 1909.
É certo, a presença do Grupo Escolar “Pedro Ludovico”, foi uma das maiores novidades surgidas na cidade no início de 1940, ao lado do prédio do Fórum e Prefeitura, até então funcionando precariamente em alguns locais, entre eles o velho prédio da Cadeia Pública, também usado por certo tempo na Intendência do Município (1905-1930). Além disso, o Grupo Escolar “Pedro Ludovico”, se não bastasse sua relevância histórico-cultural e educacional, foi fundamental na criação e instalação da Comarca, Prefeitura e a consequente vinda de autoridades como juízes de Direito, promotores de justiça, serventuários da Justiça, instalação de cartórios e outros fatos que mexem com a memória local, justificando o progresso da cidade. Inúmeros filhos de Mineiros estudaram no Grupo Escolar Pedro Ludovico, tornando-se verdadeiro ícones do Município, Estado e do Brasil.
Não podem ser esquecidas pelo menos algumas de suas abnegadas diretoras: Lilita Wagner de Barros, esposa de Dr. Evaldo Máximo de Azevedo que, além de Juiz, prestou relevantes serviços como Promotor de Justiça; Anita Garibaldo Brito, então única com curso ginasial completo, esposa de Dr. Emílio Fleury de Brito, Juiz de Direito na Comarca e desembargador do Tribunal de Justiça; Helena Oliveira Paniago, esposa de Antônio Paniago, filha de Santana dos Brejos (BA), curso de normalista em Salvador, Capital da boa terra, apaixonada pela poesia de Castro Alves, principalmente o “Livro e América”; dona Maria Paniago e Nilce Costa Nery, esposa de José do Pio, aí já se vendo o predomínio das mulheres no comando das escolas, fenômeno ainda acontecendo em Mineiros e diáspora.
Os serviços prestados pelo Grupo Escolar “Pedro Ludovico” à educação em Mineiros são indiscutíveis. Só a argúcia dos bons historiadores irá detectá-los. Recorde-se, por oportuno, sua fase de glória, ainda na década de sua criação, liderada por dedicadas diretoras e professores, na qual as atividades pedagógicas eram das mais ativas, deixando nos seus alunos e direção, o mais vivo civismo, o mais empolgante fervor patriótico, mantendo na velha Praça Ruy Barbosa, no bairro Mineirinho, 2º mais antigo da cidade, impressionante entusiasmo na entoação dos hinos Nacional, da Bandeira e as animadas disputas esportivas, alegres brincadeiras, destacadas pelo “ao telephone”, pau-de-sebo, quadrilhas, se não bastasse o barulho e animação do foguetório. Além desse lado imorredouro e de tantos sentimentos de pertencimento à Terra Mineirense, a educação no Grupo Escolar “Pedro Ludovico” era rigorosa.
Os alunos que ali estudavam estavam sujeitos à dureza dos “exames de promoção”, coordenados pela Diretora Geral e feitos por uma comissão constituída pelos professores do estabelecimento, com a indispensável presença de autoridades, começando por Inspetor Escolar, exigência prevista já no Código de Posturas citado, Juiz de Direito, Promotor de Justiça e outras, em obediência ao disposto no Regulamento do Ensino do Estado, conforme se vê de Livro Ata dos exames de promoção de 1942, arquivado na secretaria da Escola Estadual “Coronel Carrijo”, nome que recebeu o inesquecível Grupo Escolar Pedro Ludovico Teixeira, o mais antigo estabelecimento de ensino primário do Município, infelizmente demolido para dar lugar ao novo estabelecimento em nível público estadual.
Note-se que a mudança acima citada, feita por força da Lei estadual n. 6.709, de 4 de outubro de 1967, autoria do deputado José de Assis, publicada no dia 10 do mês seguinte, além de evidenciar anacrônico “costume político”, mutilava a história da educação local, mudando o nome do inesquecível Grupo “Pedro Ludovico”, para “Joaquim Carrijo de Rezende”, “Cel. Carrijo”, família das mais dignas da região, infensa a qualquer anacrinismo político, infelizmente ainda presente em nossos dias. No ano de 1970, na direção da professora Marlene Ferreira Ramos, o “Pedro Ludovico”, já com o nome “Coronel” Carrijo, segundo a Revista, Monografia Brasileira, n. VI, ano VI, julho de 1970, direção Darcy Moreira, constituída e impressa na Tipografia Universal do João “Bombinha” (João A. Costa), “…contava com 417 alunos, assim distribuídos: no 1º ano, 5 classes com 214 alunos, dos quais 104 masc. e 119 fem.; no 2º ano, 2 classes com 88 alunos, sendo 38 masc. e 50 fem. No 3º ano, 2 classes com 59 alunos, dos quais 34 masc. e 25 fem.; no 4º ano 1 classe com 45 alunos, 26 masc. e 19 fem; e no curso de alfabetização de adultos 1 classe com 11 alunos, 2 masc. e 9 feminino”.
Conforme fonte mencionada, o estabelecimento mantinha Caixa Escolar com atendimento a todos os alunos; fornecimento de merenda escolar; Biblioteca com 438 volumes; um pelotão de saúde; clube de leitura; Jornal Mural editado pelos alunos do 3º e 4º ano; um grupo teatral com 42 elementos que por sinal teve a sua apresentação em 2 peças nos dias 28 e 29 de junho passado, com as peças “Cinderela” e “Chapeuzinho Vermelho”, no palco do Colégio Estadual de Mineiros; além de duas equipes de futebol de salão que competem com os demais estabelecimentos de ensino.
José Alves de Assis, a quem Mineiros, o Sudoeste e o Estado muito devem, por certo imaginando cumprir o objetivo da lei referenciada, em 21 de setembro de 1972, encaminhou à então diretora do Grupo Escolar Pedro Ludovico, professora Marlene Ferreira Ramos, um bilhetinho, alusivo à nova denominação, merecedor de transcrição:
“Estou lhe remetendo cópia do projeto de lei de minha autoria (Lei n, 6.709, de 4/10/67, publicada no D. Oficial de 10/11/67), o qual deu denominação ao conceituado estabelecimento dirigido pela digna professor, para compor como subsidio ao livro de sua história”, acrescentando:
“Todo estabelecimento tem que possuir a narração de sua vida – Conto com sua colaboração em tal sentido.
Desejo-lhe felicidades em sua nobre missão. Do amigo,
José de Assis – Deputado José de Assis”.
José de Assis, não mudaria o nome dessa importante escola, sem alguma justificativa:
“Joaquim Carrijo de Rezende, filho do Triângulo Mineiro, é tido por todos os mineirenses como o marco inicial da bela e progressista cidade de Mineiros.
Construiu os primeiros prédios destinados à organização da vida funcional do município. Foi ainda durante a sua vida, mandatário das realizações do povoado.
Homem trabalhador, autoridade de decisões firmes, amante do desenvolvimento do lugar, o “Cel. Carrijo”, falecendo em 1926 (ao certo, final de 1925), deixou à maior família, Carrijo de Rezende, da cidade de Mineiros, um exemplo e o marco na história da ‘terra hospitaleira’, de ser o seu fundador”.
Oxalá, esteja o escriba resgatando o que os outros esquecem. Tomara, fosse eu um historiador, para não dizer escritor, que ainda não posso me definir; dizendo a última das verdades, por ser a mais importante.
(Martiniano J. Silva, escritor, advogado, membro do Movimento Negro, Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, UBEGO, mestre em História Social pela UFG, professor universitário, articulista do DM; martinianojsilva@yahoo.com.br)