terça-feira, março 26, 2024
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Como melhorar a educação brasileira

I- “O salto do aprendizado se dá quando o professor cursou faculdade da disciplina que ensina. O formado em matemática dará uma aula de matemática muito melhor”

“É melhor um professor ótimo dando aula para 35 alunos do que dois medianos ensinando em turmas de 18”

Bismarck dizia que “nunca se mente tanto como em véspera de eleição, durante a guerra e depois da caça”.

No que tange às eleições, espero que esteja certo, porque naquela que me parece a área mais nevrálgica para o desenvolvimento futuro do Brasil – a educação – é melhor que aquilo que foi prometido durante essa campanha presidencial seja apenas retórica eleitoreira. Pois todos os candidatos se aferraram a um discurso quantitativo já superado (mais escolas, mais vagas, mais dinheiro etc.) e evitaram a discussão que importa: como melhorar significativamente a qualidade da educação de nossas escolas.

  • O que fazer para que o Brasil evolua com a magnitude e a rapidez necessárias? Para este colunista, o caminho está na junção de três fatores: práticas de sala de aula, formação dos professores e administração escolar. Neste artigo, falo da primeira ponta do tripé.

Mesmo com o baixo nível de formação de nossos professores e diretores escolares, há uma série de medidas que podem ser aplicadas hoje mesmo, em qualquer sala de aula, que tendem a melhorar significativamente o desempenho do alunado.

Antes, uma nota conceitual. Quando se fala aqui de melhorar o desempenho do aluno, o que se está procurando é o aprendizado, medido por meio de testes como Saeb, Prova Brasil, Pisa, TIMSS e outros, do Brasil e do exterior. A base para as recomendações que vão a seguir é a literatura empírica sobre o tema, publicada em revistas acadêmicas, em que os dados são tratados com rigor estatístico. Ou seja, não são teorias nem as opiniões e hipóteses deste colunista, mas sim fruto de medição.

Se tivesse de resumir toda essa literatura – centenas de estudos, de vários países e anos – em uma regra de ouro, diria: o tempo de contato entre o aluno e o professor é muito valioso e escasso, e deve ser usado apenas para atividades educacionais. Tudo aquilo que pode ser feito fora da sala de aula deve ser feito fora da sala de aula.

  • A primeira prática de um professor efetivo é, portanto, o uso eficiente do tempo de aula. Muitos professores chegam atrasados a suas salas. Perdem tempo fazendo chamada, dando recados e advertências. É um desperdício. O mais grave ocorre depois. Para muitos dos nossos professores, “aula” significa encher o quadro-negro de matéria e pedir aos alunos que a copiem, depois passar exercícios e pedir-lhes que os resolvam, e finalmente, se sobrar tempo, tirar uma dúvida ou outra. É um erro. Copiar texto é algo que pode ser feito em casa, então deve ser feito em casa. Exercícios, se são feitos pelo aluno individualmente, também. O tempo de sala de aula deveria servir para que professores e alunos conversassem sobre o texto que foi lido em casa e os exercícios feitos em casa.
  • A segunda prática virtuosa, portanto, é o dever de casa. As pesquisas mostram que alunos que têm de fazer dever de casa mais frequentemente aprendem mais, especialmente a partir da 4ª série. Um estudo feito em Minas Gerais mostrou que alunos de professores que prescrevem e corrigem o dever de casa aprendem mais do que aqueles cujos professores simplesmente o prescrevem. E alunos de professores que, ao corrigir o dever, comentam e explicam os erros e acertos aprendem mais do que aqueles cujos professores apenas marcam o “certo” ou “errado”.

Relacionado ao dever de casa também está o tema dos exercícios em sala de aula: são contraproducentes. Subtraem tempo de aula para algo que o aluno pode fazer em casa.

Também na mesma lógica está a questão das provas: alunos que são testados com maior frequência aprendem mais. Faz sentido: quanto mais provas, mais o aluno tem de estudar. Quanto mais estuda, mais aprende.

Outro dado importante da pesquisa: bom material didático ajuda. Um bom livro didático, por exemplo, organiza e estrutura a prática de sala de aula. Uma das demandas do professorado brasileiro é por autonomia. Cada professor se sente no direito de reinventar a roda e criar seu próprio currículo e método de ensino. Na maioria dos casos, e especialmente quando a qualificação do profissional é baixa, é receita para o insucesso.

Um aspecto importante para determinar aquilo que o professor faz em sala de aula é quanto ele sabe sobre o que está fazendo/falando. No Brasil, há uma ênfase muito forte na diplomação universitária dos professores de ensino básico. É uma percepção acertada, já que a pesquisa sugere que professores com ensino superior obtêm melhores resultados (o mesmo não se verifica, curiosamente, com os níveis pós-superiores, como mestrado e doutorado, que se mostram irrelevantes para o aprendizado no ensino básico). Porém, o diabo está nos detalhes: mais importante do que obter o canudo é ter se formado na área em que vai ensinar. A pesquisa mostra que o salto do aprendizado se dá quando o professor cursou faculdade da disciplina que ele ensina. Um professor formado em matemática dará uma aula de matemática melhor do que outro formado em pedagogia ou história.

A maioria das pessoas acredita também que o tempo de atenção dado a cada aluno é fator importante para o aprendizado, por isso tende a querer salas de aula menores ou mais de um professor por sala. A pesquisa não sugere que essas medidas tragam resultados. É melhor ter um professor ótimo dando aula para 35 alunos do que dois medianos ensinando em turmas de 18.

Outro erro comum que cometemos é acreditar que a tecnologia e a infraestrutura são fatores determinantes para o aprendizado. Costumo ouvir, depois de palestras, as reclamações dos nossos professores de que são forçados ainda a conviver com “cuspe e giz” na era da internet. Felizmente para eles, cuspe e giz não estão obsoletos, porque são apenas mecanismos de expressão de uma tecnologia ainda sem par: o cérebro humano. A pesquisa indica que dar a infraestrutura básica – quadro-negro, cadeira e carteira para todo aluno, prédio protegido das intempéries do clima e com energia elétrica – melhora muito o desempenho do aluno. Mas, depois disso, as adições físicas não têm efeito. Inclusive a presença de computadores na escola, o que é deveras surpreendente. Depois do básico, o resto é por conta do professor.

  • Se você é daqueles que gostariam de melhorar a qualidade da nossa educação mas não sabe como, um bom começo é instar a escola de seus filhos ou do seu bairro a seguir essas práticas simples e eficazes. Não nos transformarão, em um piscar de olhos, numa Finlândia ou Coreia do Sul. Mas são um bom começo.

II- “Há viés ideológico em muitos desses cursos, mais preocupados em formar os batalhadores de vanguarda da criação da nova sociedade, e não ‘reles’ ensinadores de matéria”

  • Conforme falamos na primeira parte, há muito que nossos professores podem fazer, em sala de aula, para melhorar a qualidade do ensino. Mas não nos iludamos: enquanto eles continuarem recebendo a formação que hoje obtêm na universidade, seus alunos terão fraco desempenho.

Atualmente, temos poucos dos chamados professores leigos – 93% dos nossos mestres do ensino básico nas grandes capitais têm diploma universitário. Mas a formação costuma errar na ênfase, no conteúdo e na prática.

A pesquisa mostra que os alunos se beneficiam quando o professor estudou a área que ensina. No Brasil, porém, há maior ênfase nos aspectos genéricos do ensino do que na formação em áreas específicas. Isso acaba provocando uma falta de professores qualificados em algumas áreas. O último censo escolar revelou que só um em cada quatro professores de física é formado na área. Em química, pouco mais de um terço.

Conteúdos específicos

Mesmo dentro dos cursos de matérias específicas, a situação é desalentadora. Estudo de equipe liderada por Bernardete Gatti analisou os cursos de formação de professores de centenas de faculdades. Cinco problemas chamam atenção. Em primeiro lugar, o caráter excessivamente teórico dos cursos.

Nossa universidade, criada para ser formadora de pensadores de elite e pesquisadores, não está focada na capacitação de professores para encarar a realidade de uma sala de aula. Segundo, há uma desconexão entre os ensinamentos pedagógicos e os conteúdos específicos da matéria. Assim, quem cursa a área de matemática aprende bastante matemática e também pedagogia, mas não aprende a fazer a ponte entre ambas: como unir o conhecimento das duas áreas em uma técnica que resulte em ministrar aulas competentes.

Outro problema importante é o viés ideológico de muitos desses cursos, que estão mais preocupados em formar os batalhadores de vanguarda da criação da nova sociedade, e não “reles” ensinadores de matéria. Esse não é apenas um fenômeno espontâneo – é também incentivado por nosso governo. Nas diretrizes do Enade de 2008, na área de formação em ciências, o futuro educador é incentivado a entender seu papel como “agente transformador da realidade, compreendendo a ciência como uma atividade social”.

O quarto problema de nossos cursos é o desdém com que é tratada uma parte absolutamente crucial da formação do professorado: o estágio. Esse é um período em que, por lei, o futuro professor deveria passar em escolas, aperfeiçoando sua prática junto a professores experientes. Não é o que acontece. Segundo Gatti e equipe, praticamente não há planos de estágio nem indicações claras de como seria sua supervisão. Parece ser tratado mais como algo destinado a “cumprir tabela” do que a aprimorar o ensino. Finalmente, a academia brasileira vê a área de formação de professores como algo de baixo prestígio e valor. Nossas grandes mentes não estão engajadas no desafio de como criar cursos eficazes de formação de professores.

Na prática

O resultado de tudo isso é que os professores saem da faculdade sem os instrumentos necessários para dar uma aula eficaz. Por isso é que deparamos com dados como estes, expostos na pesquisa que deu origem ao livro A Escola Vista por Dentro: mais de 80% dos professores alfabetizadores afirmam ter aprendido o ofício “na prática” ou “com a experiência”. Mas alfabetizar é algo que exige saberes que não se aprendem na prática, conforme demonstra o alunado: o mesmo estudo mostrou que só um em cada cinco matriculados na 1ª série teria condições efetivas de passar de ano.

O que fazer para alterar esse quadro? Basicamente, o oposto do que fazemos hoje. Precisamos direcionar nossos cursos de formação de professores para a realidade prática de sala de aula, dando menos ênfase à teoria. Devemos não apenas aprofundar o ensino de conteúdos de cada disciplina, como também melhorar a ligação entre o conteúdo e a didática, transformando o conhecimento em práticas de sala de aula. Temos de encarar o estágio como o elemento fundamental desse processo, em que esse ensino aplicado é testado, com supervisão rigorosa. Precisamos de uma campanha para elevar a importância dos cursos de formação de professores dentro das universidades brasileiras, dando status e reconhecimento aos que se dedicam a essa área. Devemos abolir o viés ideológico e ter certeza de que, antes de formar futuros revolucionários, nossos professores consigam ao menos formar gente que saiba ler, escrever e fazer as operações matemáticas básicas. Precisamos tornar os cursos de formação de professores mais exigentes, mais difíceis. Outra ferramenta importante, que vem sendo continuamente referendada pela literatura empírica, é a certificação de professores: exigir que todos os futuros professores passem por um teste que meça seus conhecimentos e preparos para a docência, garantindo que não teremos mais em sala de aula gente totalmente despreparada. Além de assegurar padrões mínimos de qualidade, a criação de um processo de certificação tem servido, em alguns países europeus, para permitir de modo mais simples a entrada na docência de profissionais formados em outras áreas. Alguns países vêm também aliando a certificação teórica com estágios probatórios: o futuro professor precisa demonstrar suas aptidões no estágio em sala de aula para receber seu diploma.

Por que ainda não se faz nada disso no Brasil? Por que permitimos que os responsáveis por nossos filhos tenham formação pior do que médicos, advogados e engenheiros? Os coordenadores desses cursos vão lhe dizer que o problema está com os próprios alunos: que só escolhem o magistério por falta de alternativa e que, portanto, não têm dedicação ou interesse por aquilo que estudam. É mentira. Pesquisa do Instituto Paulo Montenegro mostra que apenas 8% dos professores das grandes capitais brasileiras entraram por acaso na profissão. Só 2% dizem ter ido dar aula por não encontrar outro emprego; 78% dizem ter orgulho de ser professor; e 72% se dizem apaixonados pela profissão.

Mudança real

O verdadeiro problema somos nós, a sociedade civil.

Para haver uma mudança real na formação de professores, é necessário que a sociedade respalde as lideranças políticas empenhadas na reforma, porque essa reforma significa que os governantes precisarão intervir forçosa e radicalmente nesses cursos nas universidades públicas, alterando-os de cima a baixo. É curioso: nossos governantes criaram coragem para invadir o Morro do Alemão, mas as universidades públicas continuam sendo consideradas território perigoso demais para a ação saneadora do estado. Esculachar bandido armado de metralhadora é mais fácil do que peitar os doutores da academia, que permanecem livres para perpetrar seus delitos intelectuais. Enquanto não houver demanda social por mudanças efetivas, as reformas serão cosméticas.

É possível criar uma certificação de professores e posar de moderno e preocupado, mas colocando a exigência em patamar tão baixo que não estimulará ninguém. Nossas elites continuam desconsiderando o problema da educação, achando que ele se restringe à escola pública. É a mesma ilusão do morador de Ipanema que acreditava que a violência do Alemão não o afetaria. Afinal, onde você acha que o professor que dá aula em escola particular se formou? Na Suíça?

Você sabe as metas do Novo Plano Nacional de Educação (PNE) do Brasil? Veja como está o país com relação a alguns pontos do novo PNE 2011-2020. Saiba sobre o tema e exija uma Educação de qualidade para todos em todo país.

III- “A literatura empírica, econométrica, ainda está longe de conseguir identificar a totalidade dos fatores que compõem o professor perfeito”

  • A qualidade da liderança é um atributo decisivo do sucesso de qualquer organização, seja ela um time de futebol, uma empresa ou um país. Em educação, não é diferente: a administração escolar – tanto no nível das secretarias quanto na direção de uma escola – é o terceiro item fundamental na melhoria do nosso ensino, e conclui esta trilogia de artigos sobre o tema. Divido este artigo em duas partes. Na primeira, faço um levantamento do que a literatura empírica aponta como sendo os fatores importantes de umaadministração escolar virtuosa. Na segunda, explico por que muitos desses fatores não têm aplicabilidade no quadro atual da educação brasileira. 

Antes de começar, um alerta: a literatura empírica, econométrica, ainda está longe de conseguir identificar a totalidade dos fatores que compõem o professor perfeito ou o diretor perfeito. Apesar dessa ignorância, há muito que já se sabe, e é disso que vamos falar.

Casa em ordem

O que deve fazer um bom administrador escolar? Um fator importante é ter a casa em ordem. Isso começa pela infraestrutura: paredes, telhados, eletricidade. Uma escola limpa também tende a ter alunos que aprendem mais. É importante que todas as salas tenham quadro-negro, cadeiras e carteiras para os alunos. Não faltar material de ensino também é positivo. Duas instalações que toda escola deveria ter: laboratórios de ciências e bibliotecas. É bom ter não apenas uma biblioteca na escola, mas uma versão menor dentro de cada sala de aula. Em termos de tecnologia, um implemento que faz diferença é a copiadora. E é só. A literatura sugere que a presença de computadores não está associada à aprendizagem, tampouco instalações mais suntuosas, como ginásios esportivos, teatros etc. (O que não quer dizer que essas áreas não façam bem ao espírito, mas estamos nos atendo aqui àquilo que é relevante para o aprendizado do aluno).

Outra decisão importante da liderança escolar diz respeito ao regime seriado versus progressão automática. O único estudo que conheço que comparou esses dois sistemas, no Brasil, chegou à conclusão de que eles são indiferentes para o aprendizado do aluno. A discussão calorosa sobre o tema é muito barulho por nada.

Em termos de administração financeira, compete ao administrador evitar os dois maiores desperdícios de recursos: diminuir o número de alunos em sala de aula e aumentar o salário de professores. Ambas as variáveis não promovem mais aprendizagem.

Gestão de pessoas

A parte mais importante da administração escolar, porém, não tem a ver com prédios e sistemas, mas com pessoas. Cabe ao líder a tarefa-chave de recrutar, treinar, motivar e reter os bons profissionais e identificar e afastar os maus.

Primeiro, os diretores. Conheço apenas dois estudos quantitativos sobre o impacto de mecanismos de seleção de diretores: um deles mostra que diretores eleitos têm alunos com desempenho melhor do que aqueles indicados por políticos, e o outro sugere que essa variável é indiferente. Nos últimos anos, liderados por Minas Gerais, alguns estados e municípios têm adotado um sistema que envolve a realização de provas qualificatórias e, num momento seguinte, eleições. Parece-me um processo superior à eleição ou indicação política, mas ainda é preciso mais pesquisa sobre o tema.

  • Há um estudo apenas sobre remuneração do diretor no Brasil, e ele indica que o salário do diretor tem correlação com o aprendizado do seu aluno.

Questão importante: o número de horas-aula. Aqui, a pesquisa se divide: nos países desenvolvidos, o número de horas é insignificante para a aprendizagem. Nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, é importante. Como a diferença estatutária de número de horas-aula entre o Brasil e os países da OCDE não é muito significativa (800 horas/ano para nós versus 900, em média, para eles), creio que a conclusão mais importante a tomar é que é preciso fazer cumprir a jornada mínima de horas-aula no Brasil. Inês Miskalo, coordenadora de Educação Formal do Instituto Ayrton Senna, que atende milhões de alunos em todo o país (nota: este colunista é membro do Conselho do IAS), atesta que, na prática, a carga horária prevista em lei não é cumprida. “Há lugares em que ter 600, 650 horas-aula por ano é visto como um sucesso”, diz ela. Antes de pensarmos em ensino de tempo integral, portanto, devemos nos certificar de que a carga prescrita em lei seja cumprida. Já nos traria um bom salto no aprendizado. O problema do absenteísmo docente está relacionado a essa questão: as pesquisas são praticamente unânimes em mostrar que professores que faltam mais têm alunos que aprendem menos.

Contrastes

Por que os professores faltam às aulas ou, em última instância, abandonam o magistério?

A pesquisa vem sugerindo que fatores não financeiros têm enorme importância na motivação dos professores de seguirem na carreira. Um fator importante é o “clima escolar”: em escolas em que há responsabilização coletiva por resultados, em que os professores se sentem partícipes de uma tarefa compartilhada e importante, os resultados são melhores.

Outro resultado: em escolas em que os alunos aprendem mais e onde há menos alunos de minorias ocorre menos abandono de professores. Esse achado é triste porque contrasta com outro achado importante: o impacto de um bom professor é desproporcionalmente maior em um mau aluno e em alunos de baixo nível socioeconômico. A melhor política, portanto, seria alocar os melhores professores para as piores escolas, mas isso aumentaria o risco de que muitos deles abandonassem a carreira, especialmente os mais jovens e mais preparados. Além de melhorar o clima escolar, há outro recurso efetivo que pode ser usado pela direção de uma escola: programas de “mentoring”, em que os professores “em risco” e os mais jovens recebem a orientação de um mentor: um professor mais experiente que ajudará nas frustrações e desafios que a carreira enseja. É importante que o bom professor não se sinta solitário e isolado, que seja constantemente amparado. A literatura mostra que os anos de carreira de um professor não têm relação com o aprendizado do seu aluno, mas os anos de permanência em uma mesma escola, sim.

  • Outro fator importante para o sucesso de uma escola é que o diretor tenha autonomia para contratar e demitir seus professores. As pesquisas revelam que é extremamente difícil identificar um bom futuro professor no momento de sua contratação, mas algumas características vêm se mostrando importantes: o professor ter estudado a área que vai ensinar na faculdade e ter cursado uma universidade concorrida produz efeito no aprendizado do aluno. Ter feito pós-graduação, não. Um estudo recente nos EUA indica que a utilização de um conjunto de variáveis cognitivas e não cognitivas dos futuros professores leva a resultados positivos. Em termos de regime de trabalho, ao contrário dos desejos dos sindicatos, a maioria das pesquisas mostra que não faz diferença, para o aprendizado do aluno, quantos empregos o professor tem, se trabalha em uma escola ou mais.

Finalmente, a meritocracia: os estudos vêm mostrando que planos que pagam bonificações a professores individuais não têm resultados significativos. Aqueles em que o pagamento é feito à escola, sim. Faz sentido: ensinar é tarefa sequencial e coletiva. Se o aluno teve uma péssima aula de matemática na segunda série, dificilmente se sairá bem na quarta.

Dificuldades para implantação
Mas muito do que vai acima ainda não pode ser implantado na maioria das escolas brasileiras. Em primeiro lugar, porque, conforme o último levantamento do Inep sobre o tema, quase 60% dos diretores escolares são fruto de indicação política. Na maioria dos casos, são apadrinhados de políticos: “Chega ano eleitoral e é um terror, todos têm medo de ser demitidos. O diretor vira cabo eleitoral do seu padrinho”, diz Ilona Lustosa, da Fundação Lemann, focada na área de gestão escolar. “No primeiro ano (do mandato) não se faz nada, pois o governo está voltado a corrigir os erros do antecessor. No último, também não, pelo medo do que vai ocorrer depois. E, mesmo no meio, o diretor sofre o impacto da eleição da outra esfera (estado ou município), que frequentemente causa mudanças de pessoal”, confirma Inês Miskalo. Em segundo lugar, porque mesmo os bem-intencionados são despreparados: não há nenhum curso de graduação em administração escolar, e até na área de pós-graduação a oferta é mínima. Em terceiro, porque na maioria dos estados o diretor é um funcionário público com estabilidade na carreira, praticamente indemissível, sem nenhum incentivo lógico a ter grande performance no cargo. (Nos últimos cinco anos, por exemplo, só dezessete diretores foram exonerados em todo o estado de São Paulo; na atual gestão da rede municipal de São Paulo, apenas dois.) Em quarto, porque o diretor de escola brasileiro é asfixiado por uma burocracia sem fim, e acaba sendo muito mais um preenchedor de formulários do que um líder pedagógico ou motivador de pessoas. Em quinto, porque na maioria dos sistemas o professor não tem incentivo para pensar no aprendizado do aluno, muito menos para ir ensinar em áreas de risco. E, finalmente, porque os diretores não têm controle sobre a variável principal do processo educacional: não podem contratar bons professores ou demitir os incompetentes.

Esse quadro é assim porque a função mais importante de uma escola para as lideranças políticas é servir de cabide de empregos e fonte de poder político, através da influência que a escola tem sobre uma comunidade. O aprendizado dos alunos importa menos. Enquanto for assim, não haverá literatura empírica que resolva.

Fonte: Educar para Crescer (Gustavo Ioschpe).
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